segunda-feira, julho 10, 2006

Apuros em uma final de campeonato

Num belo dia, onde o gás carbônico já estava alterando meu posicionamento geográfico, decidi viajar para ver a final do grande Campeonato Ganês de futebol. Seria uma longa viagem para alguém que vive em Tegucigalpa. Mas a final era entre Hearts of Oak e Asante Kotoko, então como eu não flutuava ainda, tive que ir de metrô.
Quase 20 dias de viagem...Enfim cheguei ao meu destino. Cidade um tanto estranha, eu ainda não estava acostumado a ver elefantes correndo de polâinas e muito menos a ver judeus comunistas comendo com o rabo em pleno meio-dia. Mas esta era Accra.
Tentei arrumar um lugar para dormir, pois o jogo seria no dia seguinte. Infelizmente só havia uma bucólica pousada, onde a técnica de "barranquismo" era totalmente praticada. Gente estranha essa que gosta de transar com vacas. Guardei meus equipamentos em um armário onde, para a minha surpresa, havia um poster do Zico. Lembrei que prefiro outro jogador, pois se você pedir Xuxa, no seu colo vai cair Pelé. Então fui para o centro da cidade e troquei o armário por um jogo de memória do mico leão dourado. Aliás, em Accra é muito comum a prática do escambo. Dizem que num passado não distante, um carroceiro enriqueceu trocando um bode por uma figurinha do Garrincha na copa de 1962. Dessa figurinha ele montou a maior rede de supermercados da região. Muito estranho, pois com 3 figurinhas do Martinho da Vila, eu só consegui um filhote de abutre que era viciado em jogos de azar.
E eis que a noite chega. A fome destruia minha vontade de dormir. Então parti em busca de alimento fresco. O que eu não podia imaginar era que aquela cidade tinha um algo mais a me oferecer. Mulheres seminuas, bebidas exóticas, festas que viravam a noite, carrossel no parquinho e muito, mas muito chuchu com fritas. Eu estava realizado! Talvez a bebida tivesse me deixado mais solto, pois sodomizei um pobre terneiro que fazia parte do carrossel. Péssima idéia. Percebi que não gosto de bovinos. Creio que essas bebidas proporcionam uma vontade obscura de praticar aquela técnica muito famosa por aqui. Depois de muita farra, fui para a tal pousada pra tirar o cansaço das patas. Quando cheguei lá, notei que haviam roubado meu par de pantufas do Frajola. Triste perda, mas pelo menos eu tinha trazido minha coleção de fotos da Ciciolina. Longa noite campeão.
Amanheceu e tomei aquele belo café com Coscarque. Era o grande dia. Torço desde os 35 anos para o Hearts of Oak, onde jogou o grande mestre Emmanuel Osei Kuffour. Meu time de coração jogaria num esquema 3-6-1 no maior estilo Toca y me voy. Pensando nisso, decidi comprar uma jarra florida para levar como lembrança.
Enfim fui para o estádio. 8 milhões de corações vibrando feito celular Nokia com a bateria viciada. Sentei nas cadeiras feitas de bambu laminado por um trapezista nigeriano. Qual não foi a minha surpresa, pois pensei que o povo africano só gostava de estuprar marsupiais, mas lembrei que este texto contém zoofilia demais para este horário.
O time azul entra em campo e Kuffour estava lá. Eu era um fã daqueles que são capazes de invadir o gramado e implantar o ritual do Oxum como se fosse um sanguinário carrasco tentando difundir uma nova lei que proibe qualquer tipo de publicação em jornais católicos que inclua algum membro do Ku Klux Klan como um tradutor poliglota. Mas isso não vem ao caso, porque macumbeiro é o que mais tem dentro deste estádio. O jogo então começa. Kuffour pega uma bola na intermediária e enfia o canudo...por um momento acreditei que estavam gravando um comercial da Brahma, mas a bola não atingiu a sexta estrela. E o jogo estava emocionante demais, talvez por causa da impaciência da minha barriga em querer segurar uma carga imensa. Não aguentei e fui para o banheiro. Voltei para o jogo e consegui ver o show do intervalo. Começa o segundo tempo. O campo estava todo embarrado, mas não lembro de ter chovido. Kuffour anotou 3 gols em 10 minutos e o jogo já estava terminando.
E eis que acaba o jogo e o título veio para o Hearts! Invadi o campo feito uma gazela com um par de molas nas patas traseiras. Que estranho, pois não sabia que havia uma plantação de chuchus no campo. E para a minha tristeza, percebo que o sistema de esgoto do estádio não era adequado o bastante e tive que ter um encontro com a minha janta da noitada passada. Isso foi terrível. Prometi pra mim mesmo que ficaria rico e nunca mais voltaria para este lugar onde os pobres bovinos são tratados feito animais. Da próxima vez vou ouvir os conselhos do carroceiro vencedor e comprarei meus bodes!

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